sábado, 25 de agosto de 2012

Margens da Vida


Feliz é a rua
que pisada por todos
vê o mundo, vê tolos,
vê você e me vê e gemia,
fodia, vivia.

Saudade se tem
do medo e agonia,
naquele tempo em
que as putas gemiam,
fodiam, viviam.

O tempo dança
uma dança que trança
a esperança de vingança
da ironia que,
gemia, fodia, vivia.

A verdade esconde
a si mesma, com propósito
nenhum, a não ser não ser
gemida, fodida, vivida.

Tente entender
o que se vê na rua,
que tem saudade
e o tempo dança
a dança, que
a verdade escondida
tem que ser: gemida,
fodida, vivida!


terça-feira, 14 de agosto de 2012

É o que me interessa


Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.

Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.

(Lenine)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Liberto-me


Maldição! Como hei de compreender a mim mesmo se tão pouca inteligência me foi dada e um espírito maior que a ampla natureza foi me entregue?
O suicídio veemente desse plano vem me perseguindo como idéia realizável. Não por loucura, que tão pouco existe, mas por solidão! Onde há alguém pensável? Alguém está sendo como eu?
E essas dores de cabeça de conhecimento...Desisto! Desisto! A natureza pregaste uma peça em mim e sou refém da futilidade desse tempo!
Ouço meus sentidos e perco a mente limitada! Sou Deus, sou o Homem, sou o Tempo, sou o Espaço da Existência, sou o Todo em relação com o Nada!
Liberto-me de mim, heis que sou a verdade...

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Chora


Ele segue pro trabalho todo dia
como uma pessoa qualquer.
Ele fuma seu cigarro todo dia
como um viciado qualquer.
Mas ele ainda quer...

Diz: "estou pronto,
que venha tudo de novo."
Mas ele quer o velho,
o que sufoca o peito...
Ele quer de qualquer jeito.

Ao final do dia, sem alegria.
Joga fora o tempo
que não lhe aproveita
nem por um momento.
Mistura o sentimento...

Mas apesar da normalidade,
quando a  lua já ilumina
e lembra da menina, sua sina,
Deita, cobre o corpo e por hora,
ele chora.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Amor

 
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
 
(Luís de Camões) 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

D. Crepúsculo


Dom Crepúsculo, envio essa carta informando do vosso falecimento às 17h54 nessa última tarde de inverno, numa quinta-feira, à beira do abismo psicótico. Enquanto conversava consigo mesmo, em prosa aos pseudoamigos que tanto lhe agradavam, surtaste sem mais razões do que a própria loucura e abriste mão da vida inperpétua que viveste.
Sem mais explicações, sem mais delongas, quero em primeiro lugar, apresentar o meu devido respeito à sua obra de morte, que construíste em meados da vida inteira, com tanto esmero e aprazado empenho sofisticado, que abriste a minha mente ao final do caminho... Teria noção da prazerosa companhia que foi perdida ao seu deleito? Teria noção da enorme ausência que meu próprio ser teve em construir e perder a maior criação do próprio ego? Agora é tarde, é inverno sustentado ao tempo e luto eterno do meu pensamento.
Adeus, meu caro pedaço de mim.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mulheres


Eu conheci algumas mulheres...há aquelas interessantes, inteligentes, que falam de Socrátes, metafísica e a existência de Deus...elas são interessantes, sim, leva algum tempo até que julguem sua opinião válida e aceitem um jantar em uma biblioteca empoeirada...transam sem gosto, sem sentimento, transam teoricamente, é uma aula de corpo humano e nada mais, as odeio.
Um segundo tipo de mulher: "as humildes"; não dão opinião em nada por serem discretas, não sabem e se sabem não se julgam sábias de dizer...ao final da noite dão um beijo em cada homem por serem tão simpáticas e humildes...me causam raiva, nem as provei.
Existemas românticas, francesas, apaixonadas...como me cativam! São necessárias poucas palavras e já estão em sua cama, gritando como um lobo na matilha, um sussurro ao ouvido, uma garrafa de vinho e uma ponta de cigarro no cinzeiro...eu as amo! São dias quentes em seus abraços até que a paixão as enlouqueça e corram para outros braços,  bêbadas, chorando...as conheci muito bem.
As "equilibradas" seriam o tipo certo...não são tão religiosas, nem tão sábias, nem tão apaixonadas, não são quase nada. Leva dias a conquista, demora, machuca, faz sofrer, faz chorar...e no final não são nada, um tiro curto no escuro que adentra o meu coração...me lembro de poucas.
Hoje, eu, velho e cansado, meu filho, que é filho de uma delas, pouco sabe sobre sua mãe. Se é das interessantes, julga mais sábio que ele fique com o pai carente; Se é humilde, julga mais certo cuidar de crianças órfãs da igreja; Se é romântica, envergonha o menino com suas transas e traições; Se é equilibrada, é tão sem graça que o filho prefere a solidão...ah, meu querido filho.
Mas eu lembro de uma moça aos meus velhos dezoito anos, que já passaram há muito tempo, meu único e verdadeiro amor. Não era como nenhuma delas, era especial, era perfeita, era o mar com sua imensidão trajada nos olhos verdes...guardo seu presente até hoje, uma caixa que mantém meu coração sentindo, com flores, velas, perfumes e cartões que eu escrevia...embaixo da tatuagem de lua, que encobre uma cicatriz em minha perna, uma cicatriz que sempre me lembrará ela, que hilário, as lágrimas e o sorriso saem ao lembrar do dia em que acontecera, feita pela fera e encoberta pelo rosto dela...que hilário.
Meu amor, se estiver a ler isso, anos após o dia em que escrevo, ou quem sabe, amanhã, eu sinto sua falta...realizara todos os seus sonhos? Tem uma família linda como prometido? O seu homem lhe trata melhor que eu? E seus tios, mãe, irmã e esposo, sua avó? Quantos cães você têm? Qual o nome dos seus filhos?  Você me mencionou? A bíblia falará de vocês? Você...