quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Poesias de Paulo Leminski ²


DESENCONTRÁRIOS

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.


PARADA CARDÍACA

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.

Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.

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não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino

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Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Brasil


Derramo meu sangue em teus pés
Mas não me orgulho de quem tu és
Morro por você
Mas antes quero comprar uma Tv.

Não cuspo no prato que como
Mas ele é Made in China
Então porque te defender
Se aumentaram o preço da gasolina?

Não quero seu pão francês
Não quero seu molho inglês
Quero que você faça história
Quero que você fique na memória.

Está aí algo que quero ver
Você mostrar tua cara
E bater no peito, dizer quem é
Não se esconder atrás de algum Zé Mané.

Honrar teu manto e oração
Fazer de nós, brasileiros, pedaço do coração
Agarrar qualquer um que seja filho na nação
Dar ordem, progresso e... corrupção.

Quase Nada


De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada

(Zeca Baleiro)

Tudo Por Acaso


Eu sei!
Tudo por acaso
Tudo por atraso
Mera distração...

Eu sei!
Por impaciência
Por obediência
Pura intuição...

Qualquer dia
Qualquer hora
Tempo e dimensão
O futuro foi agora
Tudo é invenção...

Ninguém vai
Saber de nada
E eu sei
Pelo sentimento
Pelo envolvimento
Pelo coração...

Eu sei!
Pela madrugada
Pela emboscada
Pela contramão...

Ninguém vai
Saber de nada
E eu sei
Por qualquer poesia
Por qualquer magia
Por qualquer razão...

E eu sei!
Tudo por acaso
Tudo por atraso
Mera diversão
Mera diversão...

Ninguém vai
Saber de nada
E eu sei!...

(Lenine)

Insonia


Não consigo dormir, rosto medonho,
Me pregar no mundo dos sonhos
Por culpa sua, olhos vermelhos,
Cara estranha nos espelhos.

Na verdade, preciso aprender
A te consumir, te saborear,
Tô tentando descansar
Mas você não deixa, quer me sufocar.

Te descobrir sozinha, numa chícara de café
Fervendo, queimando, querendo
Saborear teu amargo gosto, negro.

Me causa esse mal sem igual
Me impede completamente de relaxar
E só saber pensar em amar, amar, amar!

domingo, 14 de agosto de 2011

Pai


Pai!
Pode ser que daqui a algum tempo
Haja tempo prá gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos
Pai e filho talvez...

Pai!
Pode ser que daí você sinta
Qualquer coisa entre
Esses vinte ou trinta
Longos anos em busca de paz...

Pai!
Pode crer, eu tô bem
Eu vou indo
Tô tentando, vivendo e pedindo
Com loucura prá você renascer...

Pai!
Eu não faço questão de ser tudo
Só não quero e não vou ficar mudo
Prá falar de amor
Prá você...

Pai!
Senta aqui que o jantar tá na mesa
Fala um pouco tua voz tá tão presa
Nos ensine esse jogo da vida
Onde a vida só paga prá ver...

Pai!
Me perdoa essa insegurança
É que eu não sou mais
Aquela criança
Que um dia morrendo de medo
Nos teus braços você fez segredo
Nos teus passos você foi mais eu...

Pai!
Eu cresci e não houve outro jeito
Quero só recostar no teu peito
Prá pedir prá você ir lá em casa
E brincar de vovô com meu filho
No tapete da sala de estar


Pai!
Você foi meu herói meu bandido
Hoje é mais
Muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sozinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz
Pai!

(Fábio Jr.)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O Mundo


O poeta chora e desmancha como
Um fruto estragado, com o pranto
Se tranforma em luto profundo
E esquece o mundo.

Não quero que você
Caia em depressão, meu amor
Porque eu já caí e me perdi
Sumi de todos e de tudo, me fudi no mundo.

E hoje eu sei como é sofrer
Perder sem antes ganhar
Apanhar sem ao menos tentar
Sucumbir no mundo.

Pra que você não pense que estou louco
Eu estou rouco de gritar e me ferrar
Estou tentando me lembrar
De como era bom nunca amar.

Mas eu quero que se dane
Estou aqui pra ganhar
Vou viver até o último segundo
Querendo esquecer o mundo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sinfonia


Dó quando passou pelo tempo
Só passou, não ficou, sedento
Deixou passar o tempo, sem momento.

Renasceu sob a névoa escura
Se perdeu quando a manhã nascia
A chuva caía, seu coração fervia.

Misturou então seu coração com o ferro
Criou sua paixão, forte, com esmero
Mas a lua surgiu e a saudade bateu.

"Faz-se passado omitido, futuro obtido"
Dizia enquanto caminhava sozinho
A lua ainda no véu se desenhou no céu.

Sol então se chamou
Pois pela lua se apaixonou
Sempre vinha vê-la, mas nunca encontrou.

Lá por volta das seis
Conseguiu encontrá-la, beijá-la, saciá-la,
Mas quando a lua surgiu, ele partiu.

Sim, durou eternamente esse amor
Às vezes se encotram no pôr ou no nascer
E às vezes escuressem à todos e se amam com prazer.

Todo o Amor Que Houver Nessa Vida


Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria

(Frejat/Cazuza)