sábado, 31 de dezembro de 2011

Lúgubre


Lúgubre, lúgubre é o sentimento
Quando desperto dos sonhos
Que em teu colo durmia
E que agora jaz ressentimento.

Arrependo-me do senhor tempo
Ontem meu amigo, hoje escravo
Faz tanta falta que enlouquece
Ai, ai se você soubesse.

Úmido gramado sem sol
Que escuresse na sombra
É tal, verde e lágrimas,
Cinzas queimadas de páginas.

Grande banquete posto
Um jantar em pleno gosto
Ao cliente, o servente não prova
Eu, eu só espero a minha cova.

Constante é lúgubre, lúgubre
O sentimento quando desperto
Que em teu colo já acordei
E que nunca, nunca viverei.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Toda Minha


















Vejo que sou eu mesmo,
Quem cria a agonia e a alegria
Sou meu Deus, sou o mundo
Sou meu sol e a chuva
Sou o egoísmo em pessoa.

Sou o tudo e o nada
Sou a dor na madrugada
Sou o abismo e o paraíso
Sou quem criou você
E criei bem demais...

No mais, ainda alimentei
Te tratei como minha
Te abracei e sonhei
Hoje é minha vida,
Inventada e exagerada
É meu espelho e cópia.

Mas você me deixa,
Me esquece, teu criador,
Teu amor, teu romance
E todo teu, já que é meu
Minha criatividade mais livre,
Mais pura e crítica.

Real mesmo é isso,
Minha poesia, minha magia,
Tudo que escrevo
Minha vaidade pública.

Seus olhos tão irreais
Que sempre me dizem mais
Vejo logo que não são,
Não existem, pois tão belos
Não existirão jamais,
Minha nobre invenção, sem mais.

Hino à Dor

Dor Sorri com mais doçura a boca de quem sofre,
Embora amargue o fel que os seus lábios beberam;
É mais ardente o olhar onde, como um aljofre,
A Dor se condensou e as lágrimas correram.

Soa, como se um beijo ou uma carícia fosse,
A voz que a soluçar na Desgraça aprendeu;
E não há para nós consolação mais doce
Que o regaço de quem muito amou e sofreu.

Voz, que jamais vibrou num soluço de mágoa,
Ao nosso coração nunca pode chegar...
Mas o pranto, ao cair duns olhos rasos de água,
Torna mais penetrante e mais profundo o olhar.

Lábio, que só bebeu na fonte da Alegria,
É frio, como o olhar de quem nunca chorou;
A Bondade é uma flor que se alimenta e cria
Dos resíduos que a Dor no coração deixou.

Em tudo quanto existe o Sofrimento imprime
Uma augusta expressão... mesmo a Suprema Graça,
Dando aos versos do Poeta esse esmalte sublime
Que torna imorredoira a Inspiração que passa.

É por isso que a Dor, sem trégua nem guarida,
Dor sem resignação, Dor de estóico ou de santo,
Só de a vermos passar no tumulto da Vida
Deixa os olhos da gente enublados de pranto.

(António Feijó)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

"?"


Nunca me ame cem por cento
Pois tudo que é completo se finda,
Me ame sempre menos que o certo
E me conquiste um pouco mais a cada dia.

Conquistar com palavras poucas
Sem confundir com outros desejos
Tomar a timidez num beijo
E deixar que a paixão se faça assim.

O oceano que está dentro de ti
Não irá parar o que há dentro de mim
O fogo que não se cala, chama
E quando longe, se derrama.

Tentar ser metade do inteiro
Que eu sinto e finjo,
Deixar de guardar e amar
O quão profundo o mar é.

Quando em você despertar
O que em mim já se conforta,
Gostaria de encontrar-te
E em meio a arte, apenas olhar-te.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Tomara


Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...


(Vinícius de Moraes.)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sangue Latino


Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados
Os ventos do norte não movem moinhos

E o que me resta é só um gemido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa

Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo

E o que me importa é não estar vencido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa.

(João Ricardo / Paulinho Mendonça)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Seu Olhar ²


Desde aquele dia em diante
Seu olhar está no meu, penetrante
Cada vez que a lua estiver lá em cima
Seu olhar será minha sina.

Da vista mais bela da cidade
Grande surge a lua com sua idade
Ancestral, tantos amores observou
Mas manteve-se firme, não se deixou;

Meu mundo se tranformou em verde
Tudo em meu quarto, minha parede
O vento que soprava no mar
E sem nunca esquecer, seu olhar.

O instante antes do aperto
Você aparece e me toma por inteiro
Mesmo sem ver seu olhar, que está distante
Eu ainda sinto, está no meu, ainda brilhante!

Tanto


Coveiros gemem tristes ais
E realejos ancestrais juram que
Eu não devia mais querer você
Os sinos e os clarins rachados
Zombando tão desafinados
Querem, eu sei, mas é pecado
Eu te perder

É tanto, é tanto
Se ao menos você soubesse
Te quero tanto

Políticos embriagados
Dançando em guetos arruinados
E os profetas desacordados
A te ouvir
Eu sei que eles vem tomar meu
Drinque em meu copo a trincar
E me pedir pra te deixar partir

É tanto, é tanto
Se ao menos você soubesse
Te quero tanto

Todos meus pais querem me dar
Amor que há tempos não está lá
E suas filhas vão me deixar
Por isso não me preocupar
Eu voltei pra minha sina
Contei pra uma menina
Meu medo só termina estando ali
Ela é suave assim
E sabe quase tudo de mim
Ela sabe onde eu
Queria estar enfim

É tanto, é tanto
Se ao menos você soubesse
Te quero tanto

Mas seu dândi vai
De paletó chinês
Falou comigo mais de uma vez
Não, eu sei, não fui muito cortês
Com ele, não
Isso, porque ele mentiu, porque
Te ganhou e partiu
Porque o tempo consentiu
Ou se não porque

É tanto, é tanto
Se ao menos você soubesse
Te quero tanto
É tanto
Se ao menos você soubesse
Te quero tanto

(Chico Amaral)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Certas Coisas


Não existiria som
Se não houvesse o silêncio
Não haveria luz
Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...

Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...

Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz.
Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer...

A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...

Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...

Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz,
Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer...

(Lulu Santos)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A Vida


A vida é isso.

Um tribunal vazio sem justiça,
Uma causa perdida.

A felicidade é uma idéia velha.

Desgastada e ultrapassada,
É como o poderio de um mendigo.

A imaginação é tudo.

Desbanca a racionalidade
E toda forma de pensar no mundo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Todas as Cartas de Amor São Ridículas


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

(Álvaro de Campos - Fernando Pessoa)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Você Não Me Ensinou A Te Esquecer


Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não minto

E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando me encontrar

E nesse desepero em que me vejo
já cheguei a tal ponto
de me trocar diversas vezes por você
só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar.

(Caetano Veloso)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A Natureza


Foi justo afastado de todos os homens que eu descobri a vida.
A simplicidade e a natureza me fizeram crer no Divino e aceitar o mal da humanidade perante isso.
Meu corpo jogado ao vento, em favor do pensamento, o verde que enchia meus olhos, a água que me banhava a alma... Nunca me senti tão vivo.
O coração por minutos não bateu e nem sofreu, era como se eu não existisse, como se eu tivesse tudo em meio ao nada que representava.
Então, deixei meus rastros em meio a ferida da terra, chorei e clamei pelo amor que aos poucos surgia naquele dia... senti como se pudesse morrer ali, em meio ao paraíso.

O Conto do Sábio Chinês


Era uma vez
Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho...

Até que um dia acordou
E pro resto da vida
Uma dúvida
Lhe acompanhou...

Se ele era
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou se era uma borboleta
Sonhando que era
Um sábio chinês...

(Raul Seixas)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Viajantes


Nós somos a luxúria do universo
Somos o inverso do seu reverso
Procuramos alguma solução
Nos cantos dessa constelação

Guardamos o importante no peito
O resto concluímos ter feito
Enquanto caminhávamos no céu
Vigentes de nós, cobertos do véu.

Andamos por estradas tortas
Conhecemos lendas mortas
E fizemos disso um lema.

Criamos em imaginação a sorte
Sofremos, ficamos mais fortes
Somos viajantes correndo da morte.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Nus Como Nascemos


Ela diz, "acorde, não adianta fingir"
Eu permanecerei assim e respirando-a
Os pássaros estão indo com o fim do outono
Um de nós morrerá nesses braços.

Olhos bem abertos, nus como nascemos
Um de nós espalhará nossas cinzas pelo quintal

Ela diz, "se eu for antes de você, querido
não me desperdice no chão"
Eu deito sorrindo como nossas crianças dormindo
Um de nós morrerá nesses braços.

Olhos bem abertos, nus como nascemos
Um de nós espalhará nossas cinzas pelo quintal...

(Sam Beam)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

História do Velho


Há um velho sábio
Que mora na floresta
Ajuda a todos com imponência,
Pratica de seus milagres,
Ele conta histórias
Sobre sua vida filosófica
E de como demorou pra envelhecer.

Um dia o pobre homem
Viveu a chorar
Não parou até acabarem
Todas as lágrimas...
Assim adoeceu e morreu.

No campo da sua memória,
Absorvida nas terras divinas,
Ele colocou-se a pensar
Em como fora parar em tal lugar
Céus azuis e anjos à cantar...
O velho começou a chorar.

Não sabia de onde veio
E nem mal lembrava
Dos devareios de infância
Que o fez crescer...
Assim o homem clamou pela morte.

Em tamanha escuridão
Surgiu de capuz e foice na mão
Uma velha senhora
Empobrecida de olhar
Com o bem e o mal
Estanpados ao balançar de seu colar.

Sem mais atrasos,
Perguntas foram feitas
E respondidas,
Compreensão fez o velho
Voltar à vida após a morte...
E o choro fez-se valer.

Como um pássaro impedido de voar,
A sabedoria não vivia mais lá,
O velho perdera as condições de sábio,
Fora medíocre ao paraíso,
Não restara nada da vida vivida...
Passou a chorar todo dia.

Não parou de chorar
Senão pela nova condição
Que lhe fez gritar,
Papel de Santo lhe foi dado
E assim carregar o fardo
De quem na terra foi justificado
Como milagroso e bondoso...
O velho pôs-se a chorar.

O Sol

 
Arde 
até 
que 
tarde
suma
e suba
a lua.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Fico Assim Sem Você


Avião sem asa, fogueira sem brasa
Sou eu assim sem você
Futebol sem bola,
Piu-piu sem Frajola
Sou eu assim sem você

Por que é que tem que ser assim
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes
Vão poder falar por mim

Amor sem beijinho
Buchecha sem Claudinho
Sou eu assim sem você
Circo sem palhaço
Namoro sem amasso
Sou eu assim sem você

Tô louca pra te ver chegar
Tô louca pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração

Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas
Pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo

Por quê? Por quê?

Neném sem chupeta
Romeu sem Julieta
Sou eu assim sem você
Carro sem estrada
Queijo sem goiabada
Sou eu assim sem você

Por que é que tem que ser assim
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes
vão poder falar por mim

Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo.

(Adriana Calcanhotto)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ironia


Não há
como
descrever
tamanha
felicidade.

deixo
para
outra
oportunidade.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Onde Estará o Meu Amor


Como esta noite findará
E o sol então rebrilhará
Estou pensando em você...
Onde estará o meu amor ?
Será que vela como eu ?
Será que chama como eu ?
Será que pergunta por mim ?
Onde estará o meu amor ?
Se a voz da noite responder
Onde estou eu, onde está você
Estamos cá dentro de nós
Sós...
Se a voz da noite silenciar
Raio de sol vai me levar
Raio de sol vai lhe trazer
Onde estará o meu amor ?

(Chico César)

domingo, 27 de novembro de 2011

Pai João


De roupinha velha viveu pai joão
De chapéu de palha e de pé no chão

O pobre velho vivia a sofrer
Não tinha onde dormir, não tinha o que comer
Os homens maus não tinham compaixão
De ver o sofrimento do velho pai joão

Pai joão, pai joão
Viveu de calça velha,
De chapeu de palha e de pé no chão...

(Seu Jorge)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sansão


Você é o meu mais doce pecado
Te amei primeiro
Te amei primeiro
Sob as folhas de papel jaz minha verdade
Preciso ir
Preciso ir
Seu cabelo estava longo quando nos conhecemos

Sansão voltou para cama
Não restou muito cabelo em sua cabeça
Comeu um pedaço de pão amanhecido e
Veio direto para a cama
E os livros de história se esqueceram de nós
E a Bíblia não nos mencionou
E a Bíblia não nos mencionou
Nem sequer uma vez

Você é o meu mais doce pecado
Te amei primeiro
Te amei primeiro
Sob as estrelas que caiam sobre nossas cabeças
Mas elas são só luzes antigas
elas são só luzes antigas
Seu cabelo estava longo quando nos conhecemos

Sansão veio à minha cama
Disse-me que meu cabelo era vermelho
Disse-me que eu era linda e
Veio à minha cama
Oh, eu mesma cortei seu cabelo uma noite
Um par de tesouras cegas sob uma luz amarela
E me disse que havia feito tudo certo
E me beijou até o amanhecer
até o amanhecer
E me beijou até o amanhecer

Sansão voltou para cama
Não restou muito cabelo em sua cabeça
Comeu um pedaço de pão amanhecido e
Veio direto para a cama
Oh, nós não conseguíamos derrubar as colunas
Yeah, nós não conseguimos destruir ninguém
E os livros de história se esqueceram de nós
E a Bíblia não nos mencionou
Nem sequer uma vez

Você é o meu mais doce pecado
Te amei primeiro...

(Regina Spektor)

Entre as músicas mais lindas já feitas e encaixada perfeitamente na voz doce de Regina Spektor.

domingo, 20 de novembro de 2011

O Amanhecer


Doce novembro
Tantas coisas me lembro
Mas me interessa o presente
O momento que sinto
O novo amor
Que se apresenta com calor
No meu peito.

Estou de joelhos
Na minha janela
A lua e o sol
Vão se beijar
Por algum motivo
Estou nesse encontro
Ao amanhecer
Só pensando em você.

De um lado
A escuridão plena
Do outro
A luz serena
Que chega
No reflexo da água
E me toma por inteiro
Como o vento passageiro
Que diz mais
Do que precisa dizer.

As estrelas ainda gritam
Mas os pássaros
Já cantam e esperam
Pelo intenso sol
Que promete vingar
A noite em amarelo
Como os seus olhos
À luz da verdade
Pedindo por piedade.

Estou em meu jardim
E penso se lembra de mim
Já que a tanto
Nos conhecemos
E pouco sabemos
Um do outro
E caio perdidamente
Em seus laços
Se quiser assim.


Sem dúvida
É o tempo da minha vida
Sem delongas
E atrasos
Desejo mais que tudo
Estar em seus abraços,
Em seus beijos,
Seus desejos.

Esse poema
Nunca terá um fim
Pois meu amor
Jamais acaba assim
E se estiver a ler isso
Por favor lembre-se disso
Como um forte sentimento
Sinta por dentro
E jamais se esqueça
De mim.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Tudo


Dormir pensando
que é dono de tudo...

Acordar com a certeza
que nada lhe pertence.

E assim foi o dia
Em que o mundo me tocou
E eu toquei o mundo
Mais profundo ainda
Foi você
Que tocou meu coração
E abriu mão de tudo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Brevidade da Vida


A cigarra
canta
a existência
fumada
por todos
nós.

não há
exceção.

(apenas essa)






"Lamentável os homens que falam sobre tudo e sofrem calados..." (Raul Seixas)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Há Uma Luz Que Nunca Se Apaga


Me leve para sair esta noite
Onde tenha música e pessoas
Que sejam jovens e vivas
Passeando em seu carro
Eu nunca mais quero ir para casa
Porque eu não tenho mais
Uma casa

Me leve para sair esta noite
Porque quero ver gente
E eu quero ver luzes
Passeando no seu carro
Oh por favor não me deixe em casa
Porque esta não é minha casa
Esta é a casa deles
E eu não sou mais bem-vindo

E se um ônibus de dois andares
Colidisse contra nós
Morrer ao seu lado
Que jeito divino de morrer
E se um caminhão de dez toneladas
Matasse a nós dois
Morrer ao seu lado
Bem, o prazer e o privilégio seriam meus

Me leve para sair esta noite
Oh me leve para qualquer lugar
Eu não me importo, não me importo
E numa passagem subterrânea escurecida
Eu pensei "Oh Deus, minha chance finalmente chegou!"
Mas então um medo estranho me tomou
E eu simplesmente não pude perguntar

Me leve para sair esta noite
Me leve para qualquer lugar
Eu não me importo, Eu não me importo, Eu não me importo
Simplesmente sendo levado no seu carro
Eu nunca mais quero ir para casa
Porque não tenho mais uma casa
Oh, eu não tenho mais

Há uma luz que nunca se apaga
Há uma luz que nunca se apaga
Há uma luz que nunca se apaga
Há uma luz que nunca se apaga...

(Morrisey)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sobre Barcos


Barcos com suas rotas
Esperanças mortas
Vidas tortas...

O mar crê
No que vê
E lhe vem
Nos braços
Aos amaços
O poder

E eu a te amar
Sem te conhecer
O que fizera você
Pra me convencer?
Não sabe você
Que pra me perder
Vai ter que correr
Contra o tempo
E o tempo se livrar
Da beleza que contemplo
Sedento por ti
Eu vou lutar
Pode esperar.

sábado, 5 de novembro de 2011

Eu Sou Meu


Os egoístas, eles estão todos em linha
Confiando e esperando para se comprar no tempo
Eu, eu percebo que cada respiração passa
Eu somente tenho minha mente

O norte é para o sul o que o relógio é para o tempo
Há leste e há oeste e há vida por toda parte
Eu sei que nasci e sei que morrerei
O meio é meu
Eu sou meu

E os sentimentos, deixados para trás
Toda a inocência perdida de uma vez
Significante, atrás dos olhos
Não há necessidade de esconder...
Nós estamos seguros esta noite

O oceano está cheio porque todos estão chorando
A lua cheia procura amigos na maré alta
O sofrimento aumenta quando o sofrimento é negado
Eu somente conheço minha mente
Eu sou meu

E os sentidos, deixados para trás
Todos os inocentes perdidos de uma vez
Significante, atrás dos olhos
Não há necessidade de esconder
Nós estamos seguros esta noite

E os sentimentos que deixamos para trás
Toda inocência quebrada com mentiras
Significados, entre as linhas
Podemos precisar nos esconder

E os sentidos que deixamos para trás
Todos os inocentes perdidos de uma vez
Nós somos todos diferentes atrás dos olhos
Não há necessidade de esconder

(Pearl Jam)

O Equilíbrio


Quando bate na porta a dor
Você em meio ao mal
Reage com calor
E se acha o tal
Sem equilíbrio
Cai aqui e ali
Se perde na vida
Abatida, sucumbida.

Não bastasse o momento
Imoral da sua pessoa
Ainda procura razão
Tentar melhorar
Sem saber
Que o problema
Está em não se amar.

Fúlgidos os tempos
Em que você era alguém
No dia em que te encontrei
Amei e amei
Hoje já sei e como sei
Egoísta e perdido
Você nem é meu amigo.

Carl Jung


"Tenho visto as pessoas tornarem-se freqüentemente neuróticas quando se contentam com respostas erradas ou inadequadas para as questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação, sucesso externo ou dinheiro, e continuam infelizes e neuróticas mesmo depois de terem alcançado aquilo que tinham buscado. Essas pessoas encontram-se em geral confinadas a horizontes espirituais muito limitados. Sua vida não tem conteúdo ou significado suficientes. Se têm condições para ampliar e desenvolver personalidades mais abrangentes sua neurose costuma desaparecer."

O Fixador


Quando algo estiver apagado, deixe-me colocar um pouco mais de luz
Quando algo estiver frio, deixe-me colocar um pouco de fogo
Se algo estiver velho, eu colocarei um pouco de brilho
Quando algo for embora, eu lutarei para tê-lo de volta

Lutar para ter de volta!

Quando algo estiver quebrado, eu darei um jeito de consertar
Se algo estiver entediante, eu farei com que fique excitante
Se algo estiver baixo, eu o elevarei até ficar alto
Se algo se perder, eu lutarei para tê-lo de volta

Lutar para ter de volta!

Quando os sinais se cruzam, eu quero endireitá-los um pouco
Se não há amor, eu quero tentar amar novamente

Eu direi em suas orações, que eu ficarei do seu lado
Eu prometo uma forma de fazer luz
Eu cavarei sua sepultura, nós iremos dançar e cantar
O que está a salvo poderia ser nosso último momento

Lutar para tê-lo de volta!

(Pearl Jam)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Faça a Evoluçao


Eu estou a frente, eu sou o homem
Eu sou o primeiro mamífero a usar calças
Eu estou em paz com minha luxúria
Eu posso matar pois em Deus eu confio
É a evolução!

Eu estou em paz, eu sou o homem
Comprando ações no dia da quebra
No frouxo, eu sou um caminhão
Todas as colinas rolantes, eu irei aplanar todas ela
É comportamento de rebanho
É a evolução

Me admire, admire meu lar
Admire meu filho, ele é meu clone
Esta terra é minha, esta terra é livre
Eu faço o que eu quiser, irresponsavelmente
É a evolução!

Eu sou um ladrão, eu sou um mentiroso
Esta é minha igreja, eu canto no coro
(Aleluia, Aleluia)

Me admire, admire meu lar
Admire meu filho, admire minhas roupas
Porque nós conhecemos, apetite por banquete noturno
Esses índios ignorantes não tem nada comigo
Nada, por que?
Porque é a evolução!

Eu estou a frente, eu sou avançado,
Eu sou o primeiro mamífero a fazer planos
Eu rastejei pela terra, mas agora eu estou alto
2011, assista isso ir para o fogo
É a evolução!
Faça a evolução!

(Pearl Jam)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Memória


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Como Previa


Você não me deixa certezas
Não me deixa dúvidas
Me afunda em confusão
Me cala em solidão.

E quanto eu chorei
Não me importo mais
Mas que eu sei
Ah, eu sei
Amar como amei
Jamais farei.

Nesse medo que agora
Afronta meu ser
Nos vestígios de outrora
Que perfuraram você
E a chuva que caia
Caiu como previa.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cidadão


Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer

Tá vendo aquele colégio moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Pus a massa fiz cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Esta dor doeu mais forte
Por que que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer

Tá vendo aquela igreja moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar

Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar

Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar

Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar

(Zé Geraldo)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Soprada no Vento


Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas vezes precisará balas de canhão voar
Até serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprada no vento
A resposta está soprada no vento

Sim e quantos anos pode existir uma montanha
Antes que ela seja dissolvida pelo mar?
Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?

A resposta, meu amigo, está soprada no vento
A resposta está soprada no vento

Sim e quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim e quantas orelhas precisará ter um homem
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim e quantas mortes ele causará até ele saber
Que muitas pessoas morreram?

A resposta, meu amigo, está soprada no vento
A resposta está soprada no vento

(Bob Dylan)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sentido


O caos
soletrou
seu nome
no
meu
ouvido.

que coisa
mais bela
sua
ausência
na
minha
cabeça.


Antes das Seis


Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Vem e me diz o que aconteceu
Faz de conta que passou
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Daqui vejo seu descanso
Perto do seu travesseiro
Depois quero ver se acerto
Dos dois quem acorda primeiro
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Enquanto a vida vai e vem
Você procura achar alguém
Que um dia possa lhe dizer
-Quero ficar só com você
Quem inventou o amor?

(Renato Russo)

domingo, 9 de outubro de 2011

Se


Você disse que não sabe se não
Mas também não tem certeza que sim
Quer saber?
Quando é assim
Deixa vir do coração
Você sabe que eu só penso em você
Você diz que vive pensando em mim
Pode ser
Se é assim
Você tem que largar a mão do não
Soltar essa louca, arder de paixão
Não há como doer pra decidir
Só dizer sim ou não
Mas você adora um se...

Eu levo a sério, mas você disfarça
Você me diz à beça e eu nessa de horror
E me remete ao frio que vem lá do sul
Insiste em zero a zero e eu quero um a um
Sei lá o que te dá que não quer meu calor
São jorge por favor me empresta o dragão
Mais fácil aprender japonês em braile
Do que você decidir se dá ou não.

(Djavan)

Seu Olhar


Temos rotas a seguir
Podemos ir daqui pro mundo
Mas quero ficar porque
Quero mergulhar mais fundo

Só de me encontrar no seu olhar
Já muda tudo
Posso respirar você
E posso te enxergar no escuro

Tem muito tempo na estrada
Muito tem
E como quem não quer nada
Você vem
Depois da onda pesada
A onda zen
É namorar na almofada
E dormir bem

Foi o seu olhar
O que me encantou
Quero um pouco mais
Desse seu amor...

(Seu Jorge)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Marcel Proust - Frases


"Em amor é um erro falar-se de uma má escolha, uma vez que, havendo escolha, ela tem de ser sempre má."

"A felicidade é no amor um estado anormal."

"O amor mais obcecante para alguém é sempre o amor de outra coisa."

"Só se ama o que não se possui completamente."

"Porque o arrependimento, como o desejo, não procura analisar-se, mas sim satisfazer-se."

"Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças ?"

"Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras."


Marcel Proust(Auteuil, 10 de Julho de 1871 — Paris, 18 de Novembro de 1922) foi um escritor francês, mais conhecido pela sua obra À la recherche du temps perdu (Em Busca do Tempo Perdido), que foi publicada em sete partes entre 1913 e 1927.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Não Lembro


Escrevi e não vou apagar
Se apagar não lembro mais
E nada bom da cabeça estou
Não lembro daqui, onde estou
Se vivi ou se sonhei
Esse momento que acabo de lembrar
Se é loucura já não sei falar
Mas me lembro de matar
Certo alguém dentro de mim
Se fiz assim
Espero que esteja bem feito
Pois suspeito que com defeito
Ficou, não me lembro de quem é
Mas lembro que não era
Quem pensei que fosse
Aliás nem pensei que fosse
Ou me esqueci que foi
Pra mim, o principal da história
O protagonista nessa memória
Fui eu, já que lembro de mim
Porque penso agora
Outrora não lembro
Se fui um só com alguém
No momento que invento.

Não é Fácil


Não é fácil
Não pensar em você
Não é fácil
É estranho
Não te contar meus planos
Não te encontrar

Todo dia de manhã
Enquanto tomo meu café amargo
É, ainda boto fé
De um dia te ter ao meu lado

Na verdade eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil

Onde você anda
Onde está você
Toda vez que saio
Me preparo pra talvez te ver

Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil

Todo dia de manhã
Enquanto tomo meu café amargo
É, ainda boto fé
De um dia te ter ao meu lado

O que eu faço
O que posso fazer?
Não é fácil
Não é fácil

Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz
Do que qualquer mortal

Na verdade não consigo esquecer
Não é fácil
É estranho...

(Marisa Monte)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Escurecer


A vida parece desaparecer
Esvaindo-se todos os dias
Me perdendo dentro de mim mesmo
Nada importa, ninguém mais

Eu perdi a vontade de viver
Simplesmente nada mais a oferecer
Não há nada mais para mim
Preciso do fim para me libertar

As coisas não são mais como costumavam ser
Faltando alguém dentro de mim
Mortalmente perdido,isso nao pode ser real
Não posso suportar esse inferno que sinto

O vazio está me preenchendo
Ao ponto da agonia
As trevas crescem tomando a aurora
Eu era eu mesmo, mas agora se foi

Ninguém além de mim pode me salvar, mas já é tarde demais
Agora eu não consigo pensar, pensar por que eu deveria tentar

O ontem parece nunca ter existido
A morte me recebe calorosamente, agora eu vou apenas dizer adeus.

(Ulrich/ Hetfield)

domingo, 18 de setembro de 2011

Acaso


Sei que tu não existes
Pois acabo de comprovar
Me joguei ao acaso
E acaso nenhum
Encontrei lá.

sábado, 17 de setembro de 2011

Divino


O toque no ar
Que as palavras dão
Caminha ao infinito
Eternamente.

Ouvidos por alguém
Fazem delas orações
Enquanto o acaso
Difama o divino.

Controle seu instinto
Porque eu pressinto
Que o abismo
Está dentro desse poema.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Queria Que Você Estivesse Aqui


Então,
Então você acha que consegue distinguir
O paraíso do inferno
Céus azuis da dor
Você consegue distinguir um campo verde
de um frio trilho de aço?
Um sorriso de um véu?
Você acha que consegue distinguir?

Fizeram você trocar
Seus heróis por fantasmas?
Cinzas quentes por árvores?
Ar quente por uma brisa fria?
Conforto frio por mudança?
Você trocou
Um papel de coadjuvante na guerra
Por um papel principal numa cela?

Como eu queria, como eu queria que você estivesse aqui
Somos apenas duas almas perdidas
Nadando num aquário
Ano após ano
Correndo sobre este mesmo velho chão
O que encontramos?
Os mesmos velhos medos
Queria que você estivesse aqui

(David Gilmour/ Roger Waters)

domingo, 11 de setembro de 2011

Nostalgia


Um mergulho no azul
E me sinto nú
Não me sinto mais aqui
Onde hei de estar
Onde tenho de estar
Pois devia viver aqui
E não no reflexo
Em que a água mostra os postes,
Os porta-retratos,
Os carros passados,
Não vividos, sentidos apenas.

Busque à mim mesmo
Hoje à noite
Nessa imitação da vida
Perdida, comida pela memória
Sofrida, amanhã temida,
Por hoje ser passado
E viver eternamente
Nessa nostalgia.

Autopsicografia


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(Fernando Pessoa)