terça-feira, 19 de julho de 2011

Conto do Rei


Em um povoado muito, muito distante... onde as coisas eram o que realmente pareciam ser e as palavras ecoavam sobre o medo e a dor, onde não havia um rei e nem um poder central, onde todos viviam em harmonia com o céu e o inferno, houve um tempo de dúvida...
Nesse meio tempo, o que era certo se tornou errado, o que era claro se tornou escuro e as palavras de um homem tornaram-se o que acontecia e o que deixava de acontecer.
Não que fosse culpa dele, mas ele se tornara o Rei daquelas pessoas, o único a quem realmente importava... mas ele tão pouco sabia disso, nem ele e nem o povo sabiam.
Começou tudo com seu carisma e senso de humor agradável, seus atos e seus confinamentos, seus segredos... pouco a pouco conquistava à todos sem saber, tudo que dizia era ouvido com a maior atenção, tudo que era feito era repetido com o maior cuidado pra ser totalmente igual ao de sua autoria... mas sua distração fazia com que ele vivesse a vida normalmente, mesmo mudando a direção total na vida dos outros...
Os dias passavam e nada era notado... nenhum sábio soube ver àquilo, nenhum homem de fé soube perceber a tragédia... mas um velho mago da floresta notou uma singularidade no ar, um comportamente comum a um povoado livre, aquilo tornara-se um Reino.
O mago pôs-se a caminhar em direção à pessoa que parecia ser o pioneiro, como uma aranha tecendo suas teias, no caso, jogando suas palavras ao vento e construindo o destino de vidas. Com um puxão firme nas roupas do homem, o velho o puxara num canto e lhe dissera as seguintes palavras:
"Com palavras fez-se Rei, sem saber. Com palavras domina homens, mulheres e crianças, sem saber. Com atos rompeu barreiras e ditados, sem saber. E com minhas palavras desfaz-se Rei e desfaz a tragédia que começou, sem saber. Assim será!"
O mago partiu rumo à sua casa na floresta e mudara o destino de tudo. O homem confuso não entendera de princípio... mas o tempo fez com que amadurecesse e percebesse a disgraça que tinha feito, sem saber. Caminhou até a ponto mais imponente do povoado e disse as palavras, com medo, sem saber:
"Vocês fazem o que faço e dizem o que digo. Eu poderia fazer o que quiser com vocês que nem notariam. Tenho pena, sem saber..."
O povo se revoltou e daquele momento em diante, só fazia o contrário do que o homem dizia e fazia...
Com as palavras rudes e sem sentimento que sairam da sua boca, ele pensou fazer de escravos, homens livres... mas sem saber, continuou a comandar o povoado... agora suas palavras e atos mostravam o que era errado e o certo era ao contrário... continuou a controlar destinos, sem saber... continuou a ser Rei, sem saber...
E viveram sem saber para sempre.

"Quem não procura, com certeza acha. Vai para você o que deve ir para você, sem depender de você. E se depender de você, provavelmente não irá."

'Fim'

terça-feira, 12 de julho de 2011

Inferno


Inferno que vos mantém aquecido
Que vos gratina em meio ao caos
Que vos cozinha na panela do mal
Seja bem-vindo, ao teu mundo real!

É aqui, em meio à dor, que tu estás
É aqui que teu dono preside
Na terra antes chamada de lar
Hoje destruída pelo mar que vos cerca!

Ao som da corneta celestial
Satã invoca tua sabedoria magistral
Todos os tolos remam para longe
Ouve-se um grito que range a terra!

As portas sempre estão abertas
Ao pecado e à tentação
Fechadas serão, se tu és cristão
Cala-te aqui, não mereces o perdão!

Não há mais nenhuma esperança
Bruxas trançam suas tranças
Enquanto a lua é coberta pela fumaça
Da desgraça de queimadas de carcaça!

Uma gargalhada risca a noite
De leste à oeste, um sussurro no escuro
Lúcifer sentado em seu trono imperando
O inferno que você morre devorando!

domingo, 10 de julho de 2011


Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alterava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.

(Edgar Allan Poe)

Uma Vida


Uma vida
Minha dádiva maior, benção divina, milagre dos céus
Que pessoa é essa? Capaz de invadir todo meu ser...
Sim, ela é jóia rara, bem precioso, inigualável, única, verdadeira...
Nome de anjo, voz encantadora que até parece o doce som do mar, que encanta a todos...
Os seus olhos são os mais belos que já vi, parece que enxergam o mundo diferente, quando olho para eles...
Me sinto, mais corajoso, sinto que tudo é possivel, é como se a pessoa estivesse indo ao paraíso sem ter saído do lugar...
Como se estivesse atingido o inatingível... Sei que estás tão longe... muito distante da minha realidade...
Porém, a distância não pode apagar, não pode matar, o que nunca acabará...

"Só sei dizer que te amo, que te quero, que não vivo sem você. Cada minuto longe, me faz te querer, você é tudo, você é meu bem querer."

'Junior'

sábado, 9 de julho de 2011

William Shakespeare


"De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,

Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;

É astro que norteia a vela errante,

Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;

Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.

Se isso é falso, e que é falso alguém provou,

Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou".

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Versos de Um Bêbado


Uma, duas, três árvores...
Quatro, cinco, seis árvores...
Sete, oito, nove árvores...
Estou no chão!

Suas palavras são como pregos
São marteladas na minha cabeça
Enquanto estou entorpecido
Sou facilmente vendido.

Meu coração está acelerado
Já não sei mais
Se estou bêbado
Ou apaixonado.

Eu não durmo
Eu não sinto
Eu não como
Eu não penso
Eu não quero
Eu não preciso
Eu não peço
Eu não sou
Eu não serei
Mas eu já fui...

Sonhos e sonhos e sonhos
São construídos enquanto bebo
Enquanto bebo e bebo mais um pouco
E nunca é o bastante, nunca!

Negações sobre o que não é
As pessoas mostram quem são
Exageradamente elas mostram como são
São assim, quando bebem, quando realmente são.

Nove, oito, sete árvores...
Seis, cinco, quatro árvores...
Três, duas, uma árvore...
Estou de pé!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Soneto de Mim


Estou precisando me achar
Em cada lágrima, em cada olhar
Não sei mais se sou o que sou
Ou o que era, que passou.

Estou querendo me ver
Quem sabe marcar um encontro
Quem sabe deixar de sofrer
Ou até mesmo só mesmo viver.

E deixar o que me fez
Desta vez, um pouco mais frágil
Afundando na vida como um naufrágio.

E pensar que demorou tanto
Pra encontrar, o que me fez voar
Um mapa perdido na memória, pra me localizar.

Raul Seixas


"Eu já fui de vários jeitos
Jeitos que não eram eu
Demorei a encontrar meu caminho
Trilhando caminhos que não eram o meu
Mas ao longo dos caminhos
Encontrei muitas flores
E também muitos espinhos
Descobri vários amores
Enfrentei vários temores
Pelas beiras dos caminhos
E eles foram se fundindo
Todos em uma coisa só
Os caminhos, os amores
E os temores
Tudo o que encontrei
Tentando ser o que não era eu
Transformou-me no que eu sou
E formou o caminho
Que finalmente era o meu..."

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Como Dizia o Poeta


Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Nao há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não.

(Vinicius de Moraes)

domingo, 3 de julho de 2011

Tu


Aquilo que condenas
Não condenas.

Tu és o paradoxo
De ti próprio,
A luta da tua luta,
A compreensão do incompreensível.

Dizes o que não pensas.
E não pensas o que pensas.

Amas como dizes não amar...
Sentes como dizes não sentir...

Não és poeta mas és fingidor.
Só não sabes que és ambas
As coisas
E que em ti nascem e morrem
Infinitos;
que em ti se consagram
Mundos e vontades,
Que és nascente de rio
E foz ao mesmo tempo
Só não sabes que sabes
(ou saberás que sabes?)

(João Mattos e Silva)

O Homem Que Vendeu O Mundo


Nós passamos pela escada, falamos do que foi e quando
Embora eu não estivesse lá, ele disse que eu era seu amigo
Qual veio como uma surpresa, eu falei dentro dos olhos dele
Achei que você tinha morrido sozinho, há muito, muito tempo atrás

Oh não, eu não
Nós nunca perdemos o controle
Você está cara a cara
Com o homem que vendeu o mundo

Eu ri e apertei sua mão, e fiz meu caminho de volta pra casa
Eu procurei um jeito e lugar, por anos e anos vaguei
Eu encarei com um olhar vazio milhões de montanhas
Eu devia ter morrido sozinho, há muito, muito tempo atrás

Quem sabe? Eu não
Eu nunca perdi o controle
Você está cara a cara
Com o homem que vendeu o mundo

Quem sabe? Eu não
Nós nunca perdemos o controle
Você está cara a cara
Com o homem que vendeu o mundo

(David Bowie)