segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Antigo Ano Novo


Não diferente
da arrêta
do ano
anterior
no interior
frente à frente
coração
com outro
que indiferente
provoca
mas
não
se
rende.

Adianta
de quê?
antes eu
oferendar
do que
cedo
me
negar
à
oferecer
a
mercê
off
de
você.

Vai e vai
vem
um pouco
vai-se
de
uma vez
vem
mais
um pouco
vai e vai
foi-se
pigarreando
o antigo
ano
novo.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Amiúde me ajude


Felicidade
não é
minoridade
de dor,
é quando
a pessoa
corriqueira
no pesar;
senta
esquiva
esguia
sofre
consegue
amar.

Avacalhado
coração
de
homem,
alarmado
no
interior
envelhecido;
a paz
que lhe falta,
saber mais
que um
Deus
convencido.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Epitáfio de Vida


Esquecermos,
leis físicas
complexos químicos
ciência da psicologia
inconstância da psicanálise
refluxos sanguíneos
filosofias individualistas
sociedade líquida
aquecimento global
corrupção política
literatura moderna
religião morta
música sem sentimento
poesia sem poetas...

pois
ontem,
sábado à noite,
ouvi
o que
sempre
se
pode
ouvir:
"você
me
alegra,
você
me
ilumina".

Pensar;
afinal,
para
quê?

Sentir;
posto
que
é
o melhor
que
se
pode
fazer.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Milagreiro

 
Agora vamos ter os girassóis
Do fim do ano,
E o calor vem desumano...

Tudo irá se expandir
Crescer com as águas
Quiçá, amores nos corações...

E um santeiro,
Milagreiro
Prevê a dor
De terceiros
E diz que a vida
É feita de ilusão.

E um santeiro,
Milagreiro
Prevê a dor
De terceiros
E diz que a vida
É feita de ilusão.

Aquela que um dia o fez sonhar
Se foi com o outro
No dia em que os dois
Se casariam por amor...
Ele aluou.

Hoje o seu pesar
Cintila nos varais
Usou as sete vidas
E não foi feliz jamais.

Toda a imensidão
Passou pela vida
E foi cair na solidão.

Mais um santo para esculpir é o que lhe vale
Pra evitar que o rancor suas ervas espalhe.

(Djavan)

sábado, 15 de dezembro de 2012

Migalhas


Migalhas,
estou à procura
de
migalhas.

Migalhas
que
sejamafinal,
de
sentimentos
bons
ou
ruins,
mas
que
sejam
sem
dúvida
migalhas!

Não,
que
sejam
afinal
sentimentos
de
migalhas.

Engano,
sejam
essência
como
migalhas
de
sentimentos;
sejam,
finalmente,
acabadas:
"a existência
de
migalhas".

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Qualquer Amor

Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

(Guimarães Rosa)

Meu Velho


16 anos de idade
durante a depressão
cheguei em casa bêbado
e todas as minhas roupas -
calções, camisas, meias -
pastas, e páginas de
contos
tinham sido jogadas fora
sobre o gramado da frente e na
rua.


minha mãe estava me
esperando atrás de uma árvore:
"Henry, Henry, não
entre... ele vai
matar você, leu
suas histórias..."


"posso chutar a
bunda dele..."


"Henry, pegue isso
por favor... e
procure um quarto para você."


mas o que o preocupava era
que eu talvez não
terminasse o colegial
então eu voltaria
outra vez.


uma noite ele entrou
com as páginas de
um dos meus contos
(que eu nunca submeti a ele)
e disse, "este é
um grande conto".
eu disse, "o.k."
e ele me alcançou
e eu li.
era uma história sobre
um homem rico
que teve uma briga com
sua esposa e se
foi pela noite
atrás de uma xícara de café
e ficou observando
a garçonete e as colheres
e garfos e o
sal e o pimenteiro
e o letreiro de néon
na janela
foi então que voltou
para seu estábulo
para ver e tocar seu
cavalo favorito
que
deu-lhe um coice na cabeça
e o matou.


de alguma maneira
a história em suas mãos
tinha um significado para ele
apesar
de que quando a escrevi
não tinha nenhuma idéia
a respeito do que
tratava.


então eu lhe disse,
"o.k., velho, você pode
ficar com ela".


e ele a pegou
e caiu fora
e fechou a porta.
acho que foi
o mais próximo
que jamais estivemos.


(Charles Bukowski)

sábado, 1 de dezembro de 2012

O espaço do tempo


Estão lá;
as crises enfileiradas
na prateleira
em ordem
de mortalidade
aguardando
o descuido
matinal
de
insanidade.

O espaço
entre
o tempo;

O momento
objetante
do instante.



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Trecho Dom Quixote

 
Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca. 
 
(Miguel de Cervantes)
 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Canto das Estrelas


Tão belas, tão belas...
me sinto no universo
e não nesse reverso
a terra;
me sinto lá com elas
tão belas, tão belas.

O infinito pariu
cada uma de vós
do ventre dos sonhadores
em busca de amores
e da amada, distante
que já partiu.

Na prosa, me despindo
devorando meia taça de vinho;
estrelas me diziam:
"Amar, em primeira e última instância,
é a única salvação do indivíduo
endividado com o destino".
Que provocação a se fazer por elas;
tão belas.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Meu Guarda-Chuva


O céu já dizia
que por mais
tardio
que fosse
à todos
molharia;

acontece
que não
demorou,
as primeiras
gotas
de manhã
já molhou
e apenas
um
guarda-chuva
no meio
de dois
ficou.

em meio
ao vai e vém
do pobre
objeto,
os dois
sentaram
e prosearam;

o clarão
dos relâmpagos
assustava,
a hora
passava
e o ônibus
nem esperava,
por mais tempo
ele ali
ficava; (sem se importar)

mas a hora,
como tudo
na vida,
chegou
e então
caminharam
lado a lado
até
a despedida;

ela
virou-se
e
ao
partir,
o vento
fez-se
rir
destruindo
o guarda-chuva;

naquela tarde
um lindo
crepúsculo
sorriu
do outro lado
do mundo.


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Aurora de Primavera


Deitar-te
sobre um verde
sereno
para
abraçar-te
em meus braços
morenos.

Afagar-te
os cabelos
ao vento
para
felizar-te
apenas
um momento.

Olhar-te
com suspiros
plenos
para
contentar-te
em sentimentos
amenos.

Amar-te
sem mais
medos
para
descobrir-te
todos
segredos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Banal


Tenho medo
de querer
algo que
não se deve
querer;

pois quando
eu quero
até
o padre
curva
a chuva
para
o sol
se esconde
a lua
clara;

a vida acha uma graça,
mas logo passa...

depois
fico
meio
assim,
sem saber
de nada,
pensando
sentado
na
privada.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Esqueleto do Amor


Sonhei
e lá de cima
do infinito
ouviu;

despencou
da montanha
do universo
e caiu;

um anjo
sem asas
na esquina
surgiu;

uma flexa
no meu
coração
feriu;

devolvi
retruquei
lancei
sorriu.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Caveira na Estante


Sete mil vítimas
das sete mil
doses
de
pôr do sol
primaveril
que ostentaram
algo mais
que o sonho
indiferente
no gole de chá
de camomila
às sete da manhã
de um domingo
doloroso
que dizia
ao vento:
"as faces
do destino
são distintas,
parecem
interessantes
e o são,
mas são antes,
ilusão".

a caveira na estante
observara
sem
dizer
absolutamente
nada;

parecia-me
a morte
suplicando
ao divino
por apenas
uma dose
daquelas
sete mil vitimas
vitimadas
pelo
pôr do sol
primaveril
que ostentava(...)
ilusão".



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Porcos de Guerra

 
Generais reunidos em suas massas
Como bruxas numa massa negra
Mentes diabólicas que tramam destruição
Feiticeiros de criação de morte
Nos campos os corpos queimando
Enquanto a máquina de guerra continua agindo
Morte e ódio à humanidade
Envenenando suas mentes com lavagem cerebral
Oh, Senhor yeah!

Políticos se escondem
Eles apenas iniciaram a guerra
Por que eles deveriam sair para lutar?
Eles deixam isso para pobres, yeah!

O tempo vai mostrar a força nas suas mentes
Fazendo guerra só por diversão
Tratando as pessoas como peões de xadrez
Espere até que dia do julgamento deles chegue, yeah!

Agora na escuridão, o mundo para de girar
Cinzas onde os corpos deles queimavam
Sem mais porcos de guerra no poder
A mão de Deus marcou a hora
Dia do Julgamento, Deus está chamando
Ajoelhados, os porcos de guerra estão rastejando
Implorando perdão por seus pecados
Satã, gargalhando, expande suas asas
Oh, Senhor yeah!
 
(Butler/ Iommi/ Ward/ Osbourne)

domingo, 7 de outubro de 2012

Ponte

                                                     

                                               Vê se me tira!

Vê se me tira daqui!                                                          Vê, vê se me atira!

                                               Vê se me atira

                                                     
                                                      aqui.

Vê se me sente!












                                          Vê se me sente assim!

Sente assim?                                                                                      Vê?

                                   Vê se sente, me atira e tira daqui!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A Lista


Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

(Oswaldo Montenegro)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Diz amor


Pra que irei
me perder
agora
se já
lá fora
você não
está?

Pra que vou
me jogar
no vento
se já
você
não sabe
soprar?

Pra que deter
o tempo
se já
relento
você
parece
ser?

Pra que ficar
feliz
na véspera
se já
adianta
a vida
você
pra mim?







quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Entre Versos


No fundo
me olhando-
ou profundo
-eu vago
pelo seu pescoço
padecendo tentação.

em meio à confusão
folhas verdes
gotejantes
e dos telhados
molhados
malhados,
estou preso.

São apenas
quatro paredes
em milhões
de
quatro paredes.














Viva a liberdade.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Romance


você faísca
eu explosão

aquele dia
na beira mar
beirei seus lábios
e em mel
lambuzei,
beirei seu corpo
no mar
deixei.

você faísca
eu incêndio

outro dia
na beira rio
riu de mim
da minha palavra
e de triste
chorei,
beirei abismo
seu corpo
silente
matei.




domingo, 23 de setembro de 2012

Verdade de Pedra


Afinal,
é o que nos resta,
achar e achar
sem sobra de certeza
nenhuma.

Afinal,
passamos a vida toda
à procura do que procurar
e seria tão,
mas tão injusto
procurar
e passar
envelhecendo,
passar
remetendo
passado
e não
colher
um simples
achado.

sábado, 22 de setembro de 2012

Pernas


vontade de cruzar
com suas pernas de novo...
e de novo.

mas nunca mais,
ou talvez, até mais
quem sabe ali
onde vejo meu rosto
junto ao de outra
ali mesmo
onde beijo com gosto
as pernas de outra;
sempre será assim.

linda,
assim te chamava
assim chamei outras
e chamo ela agora,
mas sempre será assim;
contente com isso
amarei todas
morenas, loiras, francesas
e cruzarei com as pernas
delas
novamente.

sempre será assim.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Foi só há pouco tempo atrás

quase amanhecendo
pássaros pretos no fio de telefone
esperando
enquanto eu como o sanduíche
esquecido de ontem
às 6 da manhã
em uma tranquila manhã de domingo.

um sapato no canto
de pé
o outro posicionado ao seu
lado.

sim, algumas vidas foram feitas para ser
desperdiçadas.

(Charles Bukowiski)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Todo Amor é Igual


Acordo de manhã
serenata ao pé do ouvido,
esquentar o café,
seu corpo atrevido...
seus olhos, distantes
seus olhos, instantes
seus olhos.

Paro, só paro
vejo tudo
que você me tem,
aqueles recados
de madrugada,
o nome das minhas
ex-namoradas,
amargas.

Alta, se aproxima
de mim
magra, se cobre
de mim
deita em mim,
relaxa em mim,
veja em mim
amar de mais assim.

E todo amor é igual,
um poema não é
mais que um dilema,
assim como o norte
do meu coração
me leva, sempre,
em uma irônica
direção.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Pela Luz dos Olhos Teus


Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
O encontro desse olhar.

Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus
Me sinto incendiar.

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus
Já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais larirurá.

Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor
E só se pode achar
Que a luz dos olhos meus
Precisa se casar...

(Vinícius de Moraes e Toquinho)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sexo


Aqui estou
consumindo a saudade
até o último soneto.

Pernas, cabelos e olhos...
é sempre o que me encanta,
se não tiver metade disso
nem tente achar
amor em mim, saudade.

Beijos, beijos profundos
beijos que tocam a alma
beijos que deixam nu
beijos que carecem,
carecem muito amor.

Vinho derramado
na cama de outrora
no passado de outrora
na verdade de outrora
...todavia, outrora
era sexo.

E falando em saudade,
que vai e vem
num ciclo finito
até despertar
vaidade,
pensei em você.

Eu tenho até
aguentado
insolente e mórbido
cosumido e vendido,
mas tenho...
e como dizia o Velho Bukowski:
"espero que a morte reserve
menos do que isto."


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Domingo


Passos lentos, desanimados, mendigos...é domingo, que alegria! Escorrego e...ahhh, cabeça no meio-fio, desmaio ao som dos sinos da igreja.
Visão turva, tontura, o que acontece? Aos poucos me lembro e me enfureço de raiva, ódio! Como pode? Como pode ser tão desgraçada a vida? Quantos domingos são necessários para pagar todos pecados?
Agora os carros passam, as famílias passam com suas crianças insuportáveis, todas tão alegremente felizes, ai como é bom domingo...vamos à igreja agradecer pelas nossas vidas medíocres, nossos trabalhos escravos, e seus amores, seus amores ridículos!
É domingo crianças, hora de passear sem vontade com seus pais...
Ainda agonizo no chão, meio tonto, jorrando sangue e vendo os carros passar...Deus, porque parou e descansou?


Poema do Livro "Pensamento do Chão"


quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina

sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
  
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)


acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim


                      e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando. 

(Viviane Mosé)

sábado, 25 de agosto de 2012

Margens da Vida


Feliz é a rua
que pisada por todos
vê o mundo, vê tolos,
vê você e me vê e gemia,
fodia, vivia.

Saudade se tem
do medo e agonia,
naquele tempo em
que as putas gemiam,
fodiam, viviam.

O tempo dança
uma dança que trança
a esperança de vingança
da ironia que,
gemia, fodia, vivia.

A verdade esconde
a si mesma, com propósito
nenhum, a não ser não ser
gemida, fodida, vivida.

Tente entender
o que se vê na rua,
que tem saudade
e o tempo dança
a dança, que
a verdade escondida
tem que ser: gemida,
fodida, vivida!


terça-feira, 14 de agosto de 2012

É o que me interessa


Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.

Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.

(Lenine)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Liberto-me


Maldição! Como hei de compreender a mim mesmo se tão pouca inteligência me foi dada e um espírito maior que a ampla natureza foi me entregue?
O suicídio veemente desse plano vem me perseguindo como idéia realizável. Não por loucura, que tão pouco existe, mas por solidão! Onde há alguém pensável? Alguém está sendo como eu?
E essas dores de cabeça de conhecimento...Desisto! Desisto! A natureza pregaste uma peça em mim e sou refém da futilidade desse tempo!
Ouço meus sentidos e perco a mente limitada! Sou Deus, sou o Homem, sou o Tempo, sou o Espaço da Existência, sou o Todo em relação com o Nada!
Liberto-me de mim, heis que sou a verdade...

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Chora


Ele segue pro trabalho todo dia
como uma pessoa qualquer.
Ele fuma seu cigarro todo dia
como um viciado qualquer.
Mas ele ainda quer...

Diz: "estou pronto,
que venha tudo de novo."
Mas ele quer o velho,
o que sufoca o peito...
Ele quer de qualquer jeito.

Ao final do dia, sem alegria.
Joga fora o tempo
que não lhe aproveita
nem por um momento.
Mistura o sentimento...

Mas apesar da normalidade,
quando a  lua já ilumina
e lembra da menina, sua sina,
Deita, cobre o corpo e por hora,
ele chora.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Amor

 
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
 
(Luís de Camões) 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

D. Crepúsculo


Dom Crepúsculo, envio essa carta informando do vosso falecimento às 17h54 nessa última tarde de inverno, numa quinta-feira, à beira do abismo psicótico. Enquanto conversava consigo mesmo, em prosa aos pseudoamigos que tanto lhe agradavam, surtaste sem mais razões do que a própria loucura e abriste mão da vida inperpétua que viveste.
Sem mais explicações, sem mais delongas, quero em primeiro lugar, apresentar o meu devido respeito à sua obra de morte, que construíste em meados da vida inteira, com tanto esmero e aprazado empenho sofisticado, que abriste a minha mente ao final do caminho... Teria noção da prazerosa companhia que foi perdida ao seu deleito? Teria noção da enorme ausência que meu próprio ser teve em construir e perder a maior criação do próprio ego? Agora é tarde, é inverno sustentado ao tempo e luto eterno do meu pensamento.
Adeus, meu caro pedaço de mim.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mulheres


Eu conheci algumas mulheres...há aquelas interessantes, inteligentes, que falam de Socrátes, metafísica e a existência de Deus...elas são interessantes, sim, leva algum tempo até que julguem sua opinião válida e aceitem um jantar em uma biblioteca empoeirada...transam sem gosto, sem sentimento, transam teoricamente, é uma aula de corpo humano e nada mais, as odeio.
Um segundo tipo de mulher: "as humildes"; não dão opinião em nada por serem discretas, não sabem e se sabem não se julgam sábias de dizer...ao final da noite dão um beijo em cada homem por serem tão simpáticas e humildes...me causam raiva, nem as provei.
Existemas românticas, francesas, apaixonadas...como me cativam! São necessárias poucas palavras e já estão em sua cama, gritando como um lobo na matilha, um sussurro ao ouvido, uma garrafa de vinho e uma ponta de cigarro no cinzeiro...eu as amo! São dias quentes em seus abraços até que a paixão as enlouqueça e corram para outros braços,  bêbadas, chorando...as conheci muito bem.
As "equilibradas" seriam o tipo certo...não são tão religiosas, nem tão sábias, nem tão apaixonadas, não são quase nada. Leva dias a conquista, demora, machuca, faz sofrer, faz chorar...e no final não são nada, um tiro curto no escuro que adentra o meu coração...me lembro de poucas.
Hoje, eu, velho e cansado, meu filho, que é filho de uma delas, pouco sabe sobre sua mãe. Se é das interessantes, julga mais sábio que ele fique com o pai carente; Se é humilde, julga mais certo cuidar de crianças órfãs da igreja; Se é romântica, envergonha o menino com suas transas e traições; Se é equilibrada, é tão sem graça que o filho prefere a solidão...ah, meu querido filho.
Mas eu lembro de uma moça aos meus velhos dezoito anos, que já passaram há muito tempo, meu único e verdadeiro amor. Não era como nenhuma delas, era especial, era perfeita, era o mar com sua imensidão trajada nos olhos verdes...guardo seu presente até hoje, uma caixa que mantém meu coração sentindo, com flores, velas, perfumes e cartões que eu escrevia...embaixo da tatuagem de lua, que encobre uma cicatriz em minha perna, uma cicatriz que sempre me lembrará ela, que hilário, as lágrimas e o sorriso saem ao lembrar do dia em que acontecera, feita pela fera e encoberta pelo rosto dela...que hilário.
Meu amor, se estiver a ler isso, anos após o dia em que escrevo, ou quem sabe, amanhã, eu sinto sua falta...realizara todos os seus sonhos? Tem uma família linda como prometido? O seu homem lhe trata melhor que eu? E seus tios, mãe, irmã e esposo, sua avó? Quantos cães você têm? Qual o nome dos seus filhos?  Você me mencionou? A bíblia falará de vocês? Você...

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Íngreme


Quando aquela antiga voz
te chamar
ateie fogo ao primeiro bar
e as súplicas de dor faltarem
lembre-se do dia,
da alegria,
suicide-se e repouse...

O sol deitou-se, sobre mim
um raio sombreado,
apaixonado pelo fogo
àrduo, escapo
e logo me vejo,
sem medo,
deitado ao léu e preso ao céu...

Você, confusa e inconstante
como esse poema,
como um dilema,
um espaço fundo pro acaso,
ai que perdição,
mas minha escolha
e dessa vez, sim,
dessa vez,
vocês não contarão comigo, amigos.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Faltando Um Pedaço


O amor é um grande laço, um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculos pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada com a fuga de uma ilha:
Tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha.

O amor é como um raio galopando em desafio
Abre fendas cobre vales, revolta as águas dos rios
Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho
Na pureza de um limão ou na solidão do espinho.

O amor e a agonia cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço
E o coração de quem ama fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços.

(Djavan)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Olhos de Estrela


Ao caminhar estrelas,
de um dia qualquer...
Faço meus passos aos olhos da lua,
que toda nua me incendeia e
espelha esses versos.

Ai de mim,
tão afim das curvas, dos olhos,
Ai de mim...
Quanto tempo ficarei assim?

Ah, que eterno,
Nesse dia qualquer,
Que já não é.
Ai de mim...

Tempo


Eis aqui neste tempo de dúvidas, que sempre foi de dúvidas, e que sempre duvida do próprio tempo. Tempo este que é dono de quem lhe convém, por obra de si, num doce capricho marcado de infinito, abranda ou abrasa o sofrimento da passagem de areia amarga do destino remoto.
Brincando de Deus, alarga ou estreita o caminho da ampulheta, ilude um e outro margeando a ignorância do próprio ser, que assim, jamais será...Eis que há de ser, mesmo, Deus, e nada mais...

(Marcos Tourinho Filho e Juliano Tedesco)

sábado, 14 de julho de 2012

Isso então...


é o mesmo que antes
ou que da outra vez
ou da vez anterior à essa.
eis um pau
e eis uma boceta
e eis um problema.

a cada vez
você pensa
bem eu aprendi desta vez:
vou dizer a ela que faça isso
e eu farei isto,
já não quero a coisa toda,
só um pouco de conforto
e um pouco de sexo
e apenas um mínimo de
amor.

agora novamente espero
e os anos vão escasseando.
tenho meu rádio
e as paredes da cozinha
são amarelas.
sigo esvaziando as garrafas
à espera
dos passos.

espero que a morte reserve
menos do que isto.

(Charles Bukowski)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Pássaro


Há um pássaro em meu coração, tão pouco respira dentro da solidão....afogo-o em fumaça de cigarro e copos de whiskey seguidos, ouve-se vozes na escuridão...alguns trocados são trocados por um pouco de paixão, existem fantasmas em meu porão...caio da ribanceira e quebro o pescoço, há paz dentro do caixão.

Ditado


E como diz o ditado, que acabo de inventar:
"Homem feliz não sabe amar, ama na cama e o resto profana".

A arte do drama


Todos cheios de drama
um drama ridículo
que me enjoa
me vomita;
se julgam sábios do amor
senhores da dor,
quão inúteis são vocês
seres nefastos
demônios
da minha existência...

um dia passarás
pela minha janela
e comtemplará
ela meio aberta
ou aberta
por inteiro, em janeiro
com uma moça
do meu lado
segurando a minha mão
ou com uma arma
para o meu coração
que sobreviverá
para ver você
com outro alguém
que te trate com desdém
o que eu já tratei
como único e meu,
algo que sempre estará
além
dos olhos seus.

Voltarás


Não sei se voltarás
num bar, num cinema
numa trilha pequena
no dia-a-dia
na porta da alegria
num sexo casual
sexo animal;
num beijo, num desejo
em um lampejo
na igreja, na fazenda
na sua casa
na sua cara
não sei se já partistes
mas sei que não és pessoa
pessoas não voltam
elas dizem que vivem
mas apenas dispedem
deixam  o corpo nu
para que outros vejam
e percam a imaginação.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Terapia


É difícil se satisfazer
quando dentro de você
há mais de uma personalidade
e não contente,
nenhuma se contenta
em ter seu momento.

No começo pensei,
o problema são os outros,
mas não feliz por ninguém
em mais de um instante,
percebo
o problema é essa
variação constante.

Não que dentro de mim
haja mais de uma pessoa,
mas porque eu não consigo
admitir isso...e nenhuma delas
se restringe a ser cada uma.

E nunca consiguerei...
são tão complexas,
são todas os egos existentes,
são todos os que não existem,
mas isso é orgulho que tenho
carregado a muito tempo
e que não satisfeito,
nunca estarei feito.

Quando há algo a mais
que um momento de loucura
para um instante único
de razão?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Eu Amo Tudo Que Foi


Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Soneto XVII


Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

(William Shakespeare)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Soneto da Fidelidade


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


(Vinícius de Moraes)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Existir


Existência por si só
Existir por ser a mais importante
pra mim...

Não separar você de mim
Ser um só, o todo...
O mundo girar
E não parar o fogo!

Te quero antes do tempo
Que te espero tão atento
Cada segundo tão distante
Do relógio na minha estante...

E o amor? Pobre dele...
Não sabe nem existir
Só sabe ser quem é
Dentro de mim, feito de marfim.


Posto pendurado com trato
Seu retrato, no meu quarto
Ao longo do dia, radia
O sol chama, meu amor derrama...

Ai de nós, tão confusos
Acho até que faltam parafusos...
...mas quem irá ver?
Somente eu e você...